O órgão que investiga acidentes na Índia divulgou o relatório preliminar sobre a queda do Boeing 787 da Air India, no mês passado, que deixou 260 mortos e 68 feridos.
As primeiras conclusões do relatório apontam que não houve colisão com pássaros ou problemas de contaminação do combustível do voo 171. Segundo os pesquisadores, o único incidente anormal foi o desligamento dos motores por um dos pilotos.
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“Na gravação de voz do cockpit, um dos pilotos é ouvido perguntando ao outro por que ele cortou o motor. Esse outro piloto respondeu dizendo que não fez nada”, afirmou o documento ao qual Autopapo teve acesso.
As descobertas apontam a investigação para o caminho de erro humano extremamente grave ou ação intencional. Se confirmada, a queda intencional seria o quarto incidente do tipo nos últimos anos.
O que já sabemos do acidente do Air India?
Conforme regras da Organização das Nações Unidas, o relatório preliminar de um acidente deve ser divulgado em até 30 dias, e o prazo foi seguido pelos indianos.
Nesse período, as autoridades não precisam apontar a causa do desastre, mas devem divulgar o que já se concluiu até então.
Dessa forma, já sabemos que:
- A queda foi causada pela perda abrupta de ambos os motores, segundos após a decolagem. Entre os milhões de registros analisados, não encontrou-se problemas ligados a meteorologia ou peso da aeronave, entre outros.
- Análises do aeroporto de Ahmedabad e das câmeras de segurança mostraram que não houve colisão com aves ou tempo ruim.
- As amostras de combustível analisadas também não mostraram contaminação.
O combustível adulterado era uma das hipóteses ventiladas acerca da falha catastrófica. As chances de um jato como o Boeing 787 perder os dois motores ao mesmo tempo é virtualmente zero.
O último caso desse registrado foi do Airbus A321 que pousou no rio Hudson, em Nova Iorque, há 16 anos. Na ocasião, a perda foi causada pela colisão com um grande bando de pássaros.
Antes, há relatos só dos anos 1990 e 1980, sempre ligados a granizo, erupções vulcânicas ou outros fatores climáticos extremos. Nesses casos, também realizou-se comandos que, hoje em dia, seriam evitados.
Foi por querer?
O grande achado das investigações do voo 171 foi o registro de um dos pilotos desligando os motores do 787. Mas a hipótese de desligamento acidental é muito improvável, dado que jatos comerciais têm mecanismos que impedem o desligamento acidental do motor.
Para cortar cada turbina, o piloto precisa alcançar uma chave no “console central” da aeronave, que é protegida por barreiras “antiesbarrão”. Além disso, é necessário levantar uma trava de segurança e mover a chave para baixo.
O relatório destaca que os pilotos tinham experiência e treinamento adequado para o avião. Além disso, estavam descansados e passaram por testes de bafômetro antes do embarque, sem problemas.
Nos segundos pós-corte dos motores, o Boeing 787 até inicia o procedimento automático de religar ambos os propulsores. Não houve tempo para isso, entretanto.
Hipótese
Naturalmente, a hipótese de suicídio de um dos aviadores veio à tona, ainda que de maneira sutil por parte de especialistas.
Imediatamente, a IFALPA (representante de 148 mil pilotos comerciais de quase 100 países) divulgou nota pedindo calma. A entidade não contestou nada do relatório, mas pediu “profissionalismo coletivo em respeito às vítimas”, criticando especulações sem amparo nas evidências.
O youtuber e especialista em aviação Lito Sousa também não arriscou palpite, mas se disse espantado com a conclusão do governo indiano: “é inacreditável”, declarou nas redes sociais.
Conforme as regras internacionais, não há prazo para a divulgação do relatório final. Fontes da imprensa internacional afirmaram que, além de mais análises técnicas, os investigadores agora vasculham aspectos da vida pessoal de cada piloto.
Caso a hipótese de suicídio se confirme, o voo 171 da Air India se juntaria a um rol considerável de incidentes semelhantes nos últimos anos.
Casos recentes de pilotos suicidas
Nos últimos anos, diversos acidentes aéreos chocaram o mundo não apenas pela magnitude da tragédia, mas pelas evidências de que foram provocados deliberadamente pelos próprios pilotos. Esses eventos levantam debates profundos sobre a saúde mental na aviação, os protocolos de segurança dentro da cabine e os limites da tecnologia em prevenir catástrofes.
A seguir, serão apresentados três casos emblemáticos que ilustram esse cenário alarmante: os voos LAM 470, Germanwings 9525 e Malaysia Airlines 370.
Voo LAM 470
Em 2013, um Embraer E190 que voava de Angola para Moçambique caiu na Namíbia, vitimando 33 pessoas.
As caixas-pretas comprovaram que o comandante Herminio dos Santos esperou que o co-piloto saísse para trancar as portas.
Como, desde o 11 de setembro, as portas que acessam a cabine são blindadas, não houve impedimento para o atentado.
Posteriormente, investigadores descobriram que a queda ocorreu um ano após a morte do filho de Herminio. O comandante ainda tinha uma filha com problemas cardíacos internada no hospital e estava em processo de divórcio.
Voo Germanwings 9525
Em 2015, o co-piloto de um Airbus A320 que ia da Espanha para a Alemanha jogou o avião nos Alpes Franceses, matando 150 pessoas.
O responsável, Andreas Lubitz, aguardou a ida do comandante ao banheiro e trancou a porta do cockpit. Além disso, mudou a senha de desbloqueio (possível só por dentro) para impedir que o colega voltasse.
Posteriormente, investigadores acessaram o computador e outros documentos do co-piloto, que havia treinado a manobra em simulador pouco antes.
Lubitz também omitiu seu histórico depressivo com medo de ser afastado do trabalho e viu sua condição psicológica se agravar quando descobriu um grave problema de visão, que poderia levá-lo à cegueira.
Desde então, sempre que um piloto sai do cockpit, é necessário que um comissário espere junto ao outro piloto. A prática de nunca deixar a cabine vazia é seguida pelas linhas aéreas do Brasil.
Voo Malaysia Airline 370
Em 2014, o Boeing 777 seguia da Malásia para a China, mas nunca chegou ou foi encontrado.
Sabe-se, porém, que a aeronave desligou praticamente todos os sistemas de comunicação possível. Além disso, o 777 seguiu rota minuciosa até o oceano Índico, a fim de evitar a detecção por radares militares.
Como as caixas-pretas não foram encontradas, a causa do acidente é debatida. Recentemente, a imprensa malaia divulgou questionamentos quanto à ideação suicida de do capitão Zaharie Ahmad Shah.
Por outro lado, autoridades da Austrália, por exemplo, dizem que o desvio de rota da aeronave não ocorreria sem intenção e, em caso imprevisto, com aviso ao tráfego aéreo.