No episódio do programa Clássicos da Bolsa, da XP, nesta quarta (11), os especialistas João Peloia, da AlphaKey, e João Parente, da AZ Quest, destrincharam os motores por trás do forte desempenho de duas gigantes industriais brasileiras: Embraer (EMBR3) e Marcopolo (POMO4). A apresentação foi conduzida por Lucas Laghi, Head de Bens de Capital no Research da XP.
A Embraer, cujas ações acumularam alta de quase 350% desde o início de 2023, foi o primeiro destaque. Segundo Peloia, o mercado demorou a perceber a diversidade do portfólio da empresa.
“Muita gente ainda via a Embraer como uma empresa de aviação comercial apenas, quando na verdade ela tem negócios fortes em aviação executiva, defesa e serviços, todos com margens muito mais robustas do que se imaginava”, afirmou.
O executivo destacou que o segmento de defesa, com o cargueiro militar C-390, e a aviação executiva têm apresentado desempenho acima do esperado. A área de serviços, por sua vez, também contribui com geração de receita recorrente e margens elevadas, em um ambiente de demanda elevada e gargalos na oferta de peças e manutenção.
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Melhora operacional
Apesar do entusiasmo com os fundamentos da companhia, Peloia pondera que o mercado já colocou essas melhorias na conta. “A ação subiu acompanhando a revisão de lucro, de margens e a desalavancagem da empresa. Hoje a gente não vê mais uma grande assimetria. É um ativo de qualidade, mas já precificado”, analisou.
Parente concorda com a visão e acrescenta que, na AZ Quest, a tese de investimento na Embraer sempre esteve ancorada no conceito de “scarcity to value” — ou seja, a valorização de um ativo escasso, com qualidade operacional e posição estratégica global.
Ele também destacou o diferencial competitivo do C-390 em comparação com seus concorrentes, como o Hércules, inclusive em detalhes aparentemente banais, mas significativos. “O KC-390 tem banheiro; o Hércules, não. Parece irrelevante, mas mostra o nível de atenção com usabilidade que a Embraer trouxe da aviação comercial para a defesa”, afirmou.
Além disso, Parente chamou atenção para riscos que a empresa ainda enfrenta, como as tarifas que impactam o backlog da aviação executiva e a recuperação judicial da Azul (AZUL4), cliente relevante.
Também citou a expectativa por novos contratos de exportação, como as campanhas com a Polônia e a Índia, que podem incluir pacotes de venda combinando aeronaves comerciais e militares.
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Avanço com frota renovada
Na segunda metade do programa, a Marcopolo entrou no radar dos analistas, após registrar valorização de 280% desde 2023 e ser incluída no índice Ibovespa. João Parente apontou que, além da recuperação cíclica do setor, a empresa passou por melhorias microeconômicas importantes. “Ela saiu de um ROE de 9% em 2019 para cerca de 26% atualmente. Isso não é só macro; é uma mudança estrutural no negócio”, observou.
Segundo Parente, o envelhecimento da frota nacional — com média de 11 a 13 anos — criou uma demanda reprimida por renovação, impulsionando os pedidos de novos ônibus. Com a produção mantida em patamares mais baixos e o setor operando com mais racionalidade após os choques da pandemia, a empresa conseguiu expandir margens e melhorar sua precificação.
Outro fator importante foi o avanço do programa Caminho da Escola, com a entrega prevista de 2.500 ônibus em 2025, além de novas licitações em vista. Parente também ressaltou a força da empresa em mercados internacionais como Argentina e Austrália, onde a Marcopolo tem replicado seu modelo de eficiência operacional adotado no Brasil.
Valuation atrativo
Peloia complementou com uma comparação direta entre o ciclo da indústria de ônibus e o de caminhões. “Entre 2020 e 2021, o agro investiu pesado em caminhões. Já as viações estavam fragilizadas pela pandemia e só agora, entre 2023 e 2024, começaram a renovar a frota. É uma recuperação defasada, mas que beneficia muito a Marcopolo”, explicou.
Ele destacou ainda que a companhia negocia a cerca de seis vezes o lucro e tem um dividend yield em torno de 8% — múltiplos considerados muito atrativos. “É uma empresa desalavancada, o que importa muito no cenário de juros altos, e com um lado técnico favorável, já que a entrada recente no Ibovespa aumentou sua visibilidade entre investidores”, disse.
Sobre riscos, os analistas apontaram a limitação de oferta como uma barreira que, paradoxalmente, protege o ciclo atual da empresa. “Montar uma carroceria de ônibus é um processo artesanal. Para adicionar capacidade, você precisa treinar mão de obra qualificada, o que leva tempo. Isso limita a entrada de novos competidores e sustenta a precificação atual”, argumentou Peloia.
Para Lucas Laghi, da XP, o ponto-chave é a consistência das premissas de lucro. “O preço da ação é dado. O que importa é a confiança na expectativa de lucro. E, na Marcopolo, essa confiança vem de um cenário de demanda sustentável e oferta controlada, com um bom carrego de dividendos no meio do caminho”, concluiu.
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