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Essas palavras aumentaram 51% na fala das pessoas – e você nem percebeu

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Essas palavras aumentaram 51% na fala das pessoas – e você nem percebeu

Nos últimos anos, a inteligência artificial deixou de ser uma promessa de ficção científica para se tornar uma presença quase onipresente na forma como produzimos e consumimos informação. Ela corrige nossa ortografia sem pedir licença, sugere respostas prontas no WhatsApp, estrutura e-mails corporativos no tom “profissional impecável” e, cada vez mais, influencia progressivamente o jeito como falamos. E nós nem percebemos o quanto.

O fenômeno foi identificado primeiro em países de língua inglesa, mas já dá sinais claros no português brasileiro. Basta abrir o LinkedIn, participar de uma reunião no Zoom ou acompanhar uma apresentação de PowerPoint para notar o vocabulário mais polido, frases longas e um certo “tom neutro” ou cheio de emojis, que parece saído direto de um assistente virtual.

A infiltração silenciosa do vocabulário de IA Um estudo do Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano, citado em uma matéria do The Verge, analisou quase 280 mil vídeos acadêmicos no YouTube e descobriu que, nos 18 meses após o lançamento do ChatGPT, palavras como meticulous (meticuloso), realm (reino ou domínio), delve (mergulhar no assunto) e adept (hábil) apareceram até 51% mais do que nos três anos anteriores.

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Mais curioso: essa mudança não é consciente. As pessoas não percebem que estão usando mais esses termos. Eles simplesmente surgem na fala, como se tivessem sempre feito parte do repertório.

Se traduzirmos essa dinâmica para o Brasil, podemos identificar nossos próprios “delves”:

Assertiva — antes mais restrita à psicologia ou à comunicação não violenta, hoje virou elogio genérico para qualquer posicionamento “profissional”. No tocante a — expressão formal que ressurge em relatórios e atas como se fosse o sinônimo natural de “sobre” ou “em relação a”. Entretanto / contudo — conjunções elegantes que aparecem de forma quase coreografada em textos gerados ou revisados por IA. A “polêmica do travessão” e o padrão robótico No Brasil, um caso curioso ajudou a popularizar a percepção dessa influência: a chamada “polêmica do travessão” no LinkedIn. Usuários começaram a notar que muitos textos inspiracionais, corporativos ou motivacionais tinham não só o mesmo tom, mas até a mesma construção de frases, sempre destacadas por um travessão.

Era o travessão “de IA”: perfeitamente espaçado, sempre acompanhado de um comentário de impacto, sem variações de estilo. Alguns usuários passaram a brincar que bastava encontrar três travessões assim num texto para identificar o dedo da IA. Outros “defensores” do travessão argumentaram que já usavam o sinal bem antes do chat GPT, e foram críticos à taxação como “texto escrito por IA”.

Essa uniformidade vai muito além da pontuação. Em entrevista ao The Verge, o professor Mor Naaman, da Cornell Tech, diz que esse é um reflexo do que chama de perda dos sinais de humanidade, as pistas linguísticas e emocionais que transmitem autenticidade.

Homogeneização do discurso, criatividade e identidade cultural: os desafios da linguagem na era da IA Estudos recentes vêm apontando que a exposição contínua a textos gerados por inteligência artificial pode influenciar a forma como escrevemos e falamos.

Um experimento conduzido na Austrália revelou que, após lerem textos produzidos por IA, as pessoas tendem a escrever de maneira mais verbosa, com frases mais longas e um tom acadêmico, típico dos modelos como o ChatGPT. Essa estrutura clara e formal acaba sendo internalizada pelos usuários, muitas vezes sem que eles percebam.

Além disso, pesquisas realizadas por universidades de ponta, como MIT, Cornell e Santa Clara, mostram que o uso frequente dessas ferramentas pode impactar a atividade cerebral relacionada à criatividade e à memória de trabalho. Isso acontece porque, ao depender da IA para ajudar a articular pensamentos, nosso cérebro pode diminuir o esforço criativo e a originalidade.

Os três sinais de humanidade

Segundo Naaman, existem três tipos de sinais que podem desaparecer quando deixamos a IA assumir demais nossa comunicação:

Autenticidade
É a marca pessoal que nos torna reconhecíveis: nossas gírias, manias e até os erros de digitação ocasionais. São aquelas frases que, só de ler, já sabemos quem escreveu. Esforço
Mostrar que investimos tempo e energia para escrever ou falar. Não é apenas sobre conteúdo, mas sobre transmitir que aquilo veio de nós, e não de uma sugestão automática. Habilidade pessoal
Nossa capacidade de improvisar, fazer piadas internas, criar analogias malucas ou colocar emoção no discurso. Na prática, é a diferença entre escrever no chat:

“Lamento que você esteja chateado” “Poxa, desculpa por ter surtado no jantar, acho que não devia ter pulado a terapia essa semana” O primeiro soa polido e impessoal. O segundo é vulnerável, contextualizado e humano.

A influência no tom de voz Mesmo quando não estamos copiando diretamente frases da IA, pesquisadores suspeitam que estamos absorvendo o tom utilizado pela inteligência artificial. Os discursos são mais longos, organizados e com emoção contida. Em vez de contar uma história com pausas, hesitações e exemplos pessoais, passamos a falar como se estivéssemos redigindo um relatório.

Essa “voz IA” não é um problema em todos os contextos. No ambiente corporativo, ela pode transmitir clareza e profissionalismo. Mas, no campo pessoal, ou mesmo na liderança de equipes, em que conexão e empatia são cruciais, esse tom pode soar frio e artificial.

O paradoxo da confiança Pesquisas da Cornell University mostram que respostas automáticas, como as sugestões rápidas de e-mail ou chat, podem, sim, melhorar o clima de uma conversa, aumentando o uso de palavras positivas.

Mas há um detalhe importante: quando as pessoas suspeitam que a outra pessoa na conversa está usando IA, tendem a classificá-lo como menos colaborativo e mais exigente. Não é a tecnologia em si que afasta, mas a percepção subjetiva de que a fala ou o texto não são genuínos.

No ambiente de trabalho, isso cria um dilema: usar IA pode agilizar e melhorar a comunicação, mas também pode desgastar a confiança caso outros profissionais percebam (ou imaginem) que tudo foi escrito por um robô.

A padronização invisível Outro ponto crítico que pesquisadores têm levantado: modelos de linguagem como o ChatGPT tendem a privilegiar o padrão formal da língua e “achatar” outros dialetos e variações linguísticas.

Isso significa que, com o uso massivo de IA, regionalismos, sotaques e expressões típicas brasileiras podem ser gradualmente substituídos por um português “neutro” e padronizado, mais próximo do que a IA considera correto.

Um esforço recente de linguistas brasileiros pretende criar um repositório robusto de dados linguísticos brasileiros, incluindo características fundamentais como pausas, entonações, hesitações e expressões regionais, além da inclusão da Linguagem Brasileira de Sinais (Libras). Esse movimento busca treinar modelos de IA que respeitem a diversidade cultural e a riqueza do português falado em diferentes regiões do país.

A aldeia gaulesa da escrita humana Nesse cenário, a literatura pode virar um refúgio. No livro Escrever É Humano (Companhia das Letras), o escritor e jornalista Sérgio Rodrigues defende que a escrita literária mobiliza não apenas a inteligência, mas também intuição, desejo e experiência pessoal, elementos que a IA não consegue replicar.

Leia também: Alfabetização midiática em tempos de IA: por que ela é importante? Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, ele prevê que a literatura será como uma aldeia gaulesa cercada por textos gerados por máquinas. Um nicho pequeno, mas resistente, onde o valor está justamente no que é imperfeito, arriscado e surpreendente.

Para Rodrigues, buscar uma “voz própria” é o antídoto contra a homogeneização. E isso não serve apenas para escritores: líderes, comunicadores e profissionais de qualquer área também precisam cultivar sua forma única de falar e escrever, sob risco de soarem todos iguais.

O que isso significa para jovens profissionais Para jovens que estão prestes a assumir cargos de liderança, essa discussão não é só estética. Liderar envolve inspirar confiança, comunicar visão e criar conexão, tarefas que dependem de autenticidade.

Se sua fala ou seus textos começarem a soar como respostas de IA, você pode até ganhar pontos pela clareza, mas perder pelo distanciamento emocional. A vulnerabilidade e a humanidade também são importantes na hora de criar vínculos, e garantir o respeito e admiração da sua equipe.

Algumas dicas práticas para preservar a autenticidade:

Misture registros: combine o formal com o coloquial quando for adequado. Use exemplos pessoais: conte histórias reais, com detalhes e exemplos que só um humano poderia incluir. Lembre-se: a IA se guia por padrões, e nós, muitas vezes, pelas exceções, pelo que é único. Varie a estrutura: quebre o padrão perfeito de frases. Use pausas, interrupções e até desvios de assunto, como faria numa conversa ao vivo. Aceite imperfeições: um erro de digitação ou uma gíria pode humanizar a mensagem.

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