A tarifa de 50% imposta aos produtos brasileiros anunciada recentemente pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, integra a já extensa lista de sanções comerciais adotadas pelo governo norte-americano contra diversos países. Antes, em abril, o presidente havia anunciado uma taxa de 10% aos produtos brasileiros, na primeira rodada do seu ‘tarifaço’ internacional. Além do Brasil, outras 15 nações, incluindo a China, estão na mira das novas barreiras tarifárias dos americanos, que devem entrar em vigor no dia 1º de agosto.
O anúncio veio na contramão da relativa estabilidade que o comércio entre Brasil e Estados Unidos desenvolveu nas últimas décadas — e que, ao contrário do que o presidente estadunidense afirma, é mais rentável para os americanos do que para o Brasil, o chamado superávit comercial.
Nos últimos 15 anos, o comércio gerou para os EUA um superávit (diferença entre o que foi exportado e o que se importou do Brasil) de 410 bilhões de dólares, conforme o comunicado enviado pelo presidente Lula a Trump.
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Em 2024, cerca de 12% das exportações brasileiras foram para os EUA, ocupando o cargo de terceiro principal parceiro comercial do Brasil. No agronegócio, setor muito bem relacionado com o mercado americano, a taxa de 50% imposta por Trump poderá provocar uma queda de até 75% nas exportações brasileiras para os EUA, conforme estimativas de estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV). Produtos como café, laranja e carne bovina estariam entre os mais vulneráveis ao impacto.
Na visão de especialistas, a medida tem mais motivação política do que comercial, com o julgamento de Jair Bolsonaro sendo usado como moeda de troca por Donald Trump, simpático ao ex-presidente brasileiro. O aumento abrupto das tarifas seria uma estratégia de pressão ao governo brasileiro que ultrapassaria interesses puramente econômicos.
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Ao que tudo indica, porém, o ‘tarifaço’ de Trump pode representar um tiro no pé. Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) prevê que, no contexto da nova taxa, o país mais prejudicado a longo prazo seria… o próprio Estados Unidos.
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Tiro no pé
–CNI/Reprodução
Apesar do objetivo declarado do governo Trump ser proteger sua indústria, o estudo da CNI prevê que os efeitos negativos são maiores para os próprios Estados Unidos. Segundo a projeção, a elevação das tarifas pode causar uma retração de 0,37% no Produto Interno Bruto (PIB) americano — mais que o dobro do impacto previsto para Brasil e China, em torno de 0,16%.
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Esse impacto negativo se deveria, principalmente, à longa integração de produção entre os EUA e seus parceiros comerciais, incluindo o Brasil, que fornece insumos para diversos setores industriais e agropecuários americanos. A tarifa média real que o Brasil aplica hoje nos produtos exportados aos EUA é de 2,7% — contraste gritante com os 50% impostos pelo lado americano a partir de agosto.
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Isto é, ao taxar as importações do Brasil, os produtos brasileiros comprados por empresas norte-americanas ficariam mais caros ao chegar nos EUA. Imagine, hipoteticamente, que o Brasil envie grãos de café para uma rede de cafés norte-americana por 1 mil dólares por caixa. Ao atravessar a fronteira americana, essa caixa receberia um acréscimo de 50% do seu valor, passando a custar 1.500 dólares.
Quem pagaria o preço total ainda seria a empresa norte-americana que encomendou o café, mas os 500 dólares advindos do tributo iriam direto para a receita americana, não para o produtor brasileiro. Para o comprador, é indiferente se o dinheiro vai para o fornecedor estrangeiro ou para o governo — o fato é que o custo total de aquisição daquela matéria-prima aumentou.
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Diante desse cenário, há dois caminhos. A empresa americana pode tentar importar de outro país que não sofreu aumento de tarifas ou recorrer ao próprio mercado interno, se houver disponibilidade. Neste caso, o mercado brasileiro sai perdendo.
Porém, nem sempre é simples substituir fornecedores: podem faltar opções que tenham a mesma qualidade, volume ou preço competitivo. É o segundo cenário: se importar de outro país acabar ficando ainda mais caro (por fatores como distância, impostos locais, logística ou outros acordos regionais), a empresa pode preferir continuar pagando a tarifa sobre o produto brasileiro — mas, de qualquer forma, sempre estará pagando mais caro do que antes.
Esses preços mais elevados fariam com que os custos de produção também subissem, o que, muito provavelmente, resultaria nas empresas repassando esse aumento aos consumidores finais — produtos mais caros nas lojas e mercados americanos.
Além disso, ao gastar mais para produzir, as empresas americanas poderiam perder a competitividade, uma vez que seus produtos ficariam mais caros do que os de outros países. A longo prazo, a medida poderia representar uma queda nas vendas e o acúmulo de prejuízos e cortes.
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Prejuízo global
Olhando por uma perspectiva ainda mais ampla, o pacote de tarifas de Trump poderia gerar um cenário de perda mundial, afetando não apenas os Estados Unidos e as nações taxadas, mas toda a economia global. As projeções apontam para uma queda de 0,12% na economia mundial e uma redução de 2,1% no comércio internacional. O número pode parecer baixo, mas falar em uma queda de 2,1% no comércio global é falar de uma potencial queda de US$ 483 bilhões em trocas comerciais mundiais.
“Os números mostram que esta política é um perde-perde para todos, mas principalmente para os americanos. A indústria brasileira tem nos EUA seu principal mercado, por isso a situação é tão preocupante. É do interesse de todos avançar nas negociações e sensibilizar o governo americano da complementariedade das nossas relações”, explica Ricardo Alban, presidente da CNI.
Ou seja, ao que tudo indica, a política, ao invés de fortalecer os setores econômicos americanos, como Trump espera, pode fazer com que o lado taxador saia tão ou mais prejudicado que o lado taxado.
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