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Torto Arado: resumo e análise da obra de Itamar Vieira Junior

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Torto Arado: resumo e análise da obra de Itamar Vieira Junior

Vencedor do prêmio Jabuti em 2020, o livro “Torto Arado”, do brasileiro Itamar Vieira Junior, já foi traduzido e publicado em mais de 20 países. Fenômeno de vendas, a obra caiu no gosto do público-leitor – e também das bancas de grandes vestibulares. Ele é leitura obrigatória no vestibular da UEL (Universidade Estadual de Londrina) e até o ano passado também era cobrado na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Em 2023, ganhou destaque ainda maior quando apareceu na prova do Enem. Mas afinal, qual é a história de “Torto Arado”?

O GUIA DO ESTUDANTE traz abaixo um resumo da obra, além de uma análise dos principais aspectos da narrativa, os temas abordados ao longo do livro e os motivos pelos quais ele se faz tão atemporal. Para isso, contamos com a ajuda de Francielly Baliana, Professora de literatura do Poliedro Colégio em São José dos Campos e doutora em Teoria Literária pela USP (Universidade de São Paulo).

Confira!

+ Qual a razão do sucesso do romance Torto Arado?

A história de Torto Arado
O livro de Itamar Vieira Júnior é dividido em três partes:

Fio de corte: com 15 capítulos;
Torto Arado, com 24 capítulos;
Rio de sangue, com 14 capítulos;

No total, são pouco mais de 250 páginas – e vale destacar que cada fase tem um narrador diferente. Ao longo do enredo, o autor destrincha o universo de trabalhadores rurais descendentes de escravizados, e as dificuldades enfrentadas por esse grupo geração após geração.

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A história se passa no sertão baiano, em Água Negra, uma fazenda fictícia na Chapada Diamantina. As protagonistas são duas irmãs, Bibiana e Belonísia, e história delas é contada desde a infância até a vida adulta. 

Tudo começa quando elas, ainda crianças, encontram uma misteriosa faca de prata antiga com um cabo de marfim guardada em uma mala sob a cama da avó. Elas colocam o objeto na boca e acabam se acidentando – com uma delas perdendo a língua. A partir de então, suas vidas ficam ligadas para sempre, já que a irmã muda passa a se comunicar por meio da outra.

Ao longo do livro, é possível compreender que a família das irmãs vive em uma situação análoga à escravidão: na fazenda do patrão, eles não têm direito à terra, a uma moradia digna e sequer aos alimentos que plantam e cuidam nos arredores da casa. Porém, durante boa parte da narrativa, nem chegam a refletir sobre os direitos que possuem, sobre o trabalho que realizam e boa parte do que colhem é repassado para os “senhores”, proprietários das terras. O latifúndio e o trabalho servil são pano de fundo da história.

A tomada de consciência das personagens a respeito dessa exploração só se dá na segunda parte do romance, também intitulada Torto Arado, quando a irmã Bibiana, que mais cedo havia fugido da fazenda com o primo Severo para tentar uma vida melhor, retorna para casa.Aa jovem começa a organizar os trabalhadores da fazenda Água Negra para reivindicar o status de território quilombola, garantindo assim o direito às terras onde vivem.

+ O que é a reforma agrária, reivindicada pelo MST

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Esse universo das personagens é marcado pela violência – seja contra as mulheres, por homens mais ou menos poderosos, ou contra os mais pobres e vulneráveis – além dos períodos de seca que agravam a fome. Mas tudo isso é entremeado pelas crenças, religiosidade e ancestralidade africana.

Isso porque todos da região têm uma forte conexão com a natureza e com a espiritualidade, sendo praticantes do Jarê, uma religião de matriz africana típica da Chapada Diamantina que une elementos do candomblé e catolicismo com influências indígenas. O pai de Belonísia e Bibiana, Zeca Chapéu Grande, é o grande representante do Jarê entre os moradores, sendo respeitado e procurado em casos de necessidade. 

Suas filhas também herdam essa conexão com o mundo dos encantados, e isso fica especialmente evidente na última parte do livro, Rio de Sangue. Quem narra estas páginas é uma entidade da religião, Santa Rita Pescadeira, que manifesta-se por meio das irmãs para um acerto de contas com o fazendeiro que explora os trabalhadores da região e ameaça expulsá-los.

Os narradores de Torto Arado
Torto Arado, como já mencionado, é dividido em três grandes partes, cada uma dela com um narrador. Para Francielly Baliana, Professora de literatura do Poliedro Colégio em São José dos Campos e doutora em Teoria Literária pela USP, “isso oferece diferentes visões da mesma realidade, enriquecendo a perspectiva do leitor sobre o enredo e os personagens.

Quem narra a primeira parte, Fio de corte, é Bibiana. Ela nos apresenta outras personagens da família, reconta a tragédia que marcou a vida das duas irmãs, e nos dá um panorama da região onde vivem e da dinâmica de exploração entre fazendeiro e trabalhadores. Ao final desta parte, ela abandona a irmã, de quem tinha se tornado a voz, para buscar uma vida melhor na cidade ao lado do primo (e agora companheiro) Severo.

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Já a segunda e maior parte, Torto Arado, é narrada por Belonísia. A irmã, que ficou muda na infância, narra o distanciamento e vazio deixado por Bibiana. Ela se dedica, então, à plantação, ao lar e é quem herda os ensinamentos do pai sobre a terra. É com ela que o leitor consegue entender melhor o universo da família – das dificuldades aos momentos de celebração – e todos os mistérios que a cercam. Belonísia torna-se também uma figura importante na região, e desenvolve uma relação estreita com outras personagens. Acaba se casando com o vaqueiro Tobias, com quem tem um casamento infeliz, e é quem salva a Maria Cabocla da violência sofrida pelo marido. 

Esta parte do livro também reconta a história dos mais velhos, em especial do pai Zeca e da avó Donana (a quem pertencia a faca que selou o destino de Belonísia).

Por fim, a terceira parte do livro, Rio de Sangue, é narrada por um encantado, Santa Rita Pescadeira. Por ser uma figura mistica, ela consegue “amarrar” as pontas soltas do livro, recontando a história de antepassados. Ela também reconecta as irmãs, já que se vale do corpo de ambas para encerrar o conflito histórico da região.

+ As origens da fome no Brasil e por que ela voltou a crescer

O tempo da obra
Pode ser fácil se perder na leitura de Torto Arado, já que o tempo da narrativa não é linear. Os personagens transitam entre presente e passado, por isso vale atenção redobrada. Já em relação ao tempo histórico em que a obra está situada, a professora Francielly Baliana afirma que, embora tudo leve a crer que a história se passa nos tempos atuais, é possível ver “marcas muito fortes de um passado colonial e escravocrata que ainda modela o presente”. A intenção é demarcar a “atemporalidade do sofrimento do povo que trabalha na terra”, analisa.

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Além disso, ao não especificar um tempo histórico, é como se as leis e os direitos civis não tivessem chegado a essa população, que está vivendo no presente da mesma maneira que se vivia há décadas ou mesmo séculos atrás.

Outros personagens de Torto Arado
Além das irmãs protagonistas, também são personagens relevantes na obra:

Zeca Chapéu Grande: pai de Belonísia e Bibiana, é curandeiro e líder espiritual;
Salustiana: a mãe, que também é parteira e muito respeitada pelos moradores;
Donana: avó, proprietária do facão que tirou a língua de Belonísia;
Severo: primo que se casa com Bibiana e, mais tarde, torna-se uma liderança na luta pela terra;
Tobias: vaqueiro que chega à região e acaba se casando com Belonísia. É violento;
Maria Cabocla: vizinha de Belonísia que sofre com a violência do marido;
Santa Rita Pescadeira: encantada que caminha na região há séculos e conhece a história de exploração e violência vivida ali. Outros encantados que aparecem na obra são Velho Nagô, Mineiro, Oxóssi, Mãe d’Água e Ventania.

As mensagens do livro
O livro faz um recorte que ajuda a entender melhor o Brasil, sua história e os desafios de quem vive às margens da sociedade. É um retrato da realidade vivida por brasileiros que parecem ter sido esquecidos, seja em termos políticos, econômicos ou sociais. 

“Apesar de ser ficção, o romance revela a persistência das estruturas escravocratas, mesmo após a abolição oficial da escravidão”, pontua a professora de literatura do Poliedro.

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Alguns dos principais temas abordados na obra são:

luta pela dignidade do trabalhador do campo e a desigualdade fundiária;
cultura e herança africana como formas de resistência;
fome;
seca e o apagamento do sofrimento de quem vive no campo;
violência contra as mulheres perpetrada ao longo da história;
relações familiares, sociais e de poder. 

“O livro funciona quase como um romance de denúncia social, ao mesmo tempo em que valoriza a força e a cultura do povo retratado”, diz Francielly.

Um outro ponto que merece a atenção do leitor é o protagonismo feminino, já que todas as narradoras – mesmo a entidade espiritual – são figuras femininas. Ao traçar trajetórias tão distintas para Bibiana e Belonísia, Itamar valoriza a força da mulher brasileira em todas as vertentes, seja acessando outros espaços e o ensino formal, seja dando continuidade às tradições e raízes do campo.

“Ambas lutam, à sua maneira, pela dignidade de seu povo”, afirma a professora. Bibiana destacando o poder da educação e da militância, e Belonísia mostrando a força do trabalho e das relações ancestrais como forma de resistência. “Nenhuma trajetória é superior à outra, o livro valoriza tanto a vivência prática da terra quanto o conhecimento formal”, conclui.

O autor 
Itamar Vieira Junior trabalhou no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Assim, conseguiu explorar suas experiências teóricas e práticas em relação à terra e aos conflitos históricos pela posse nas páginas da obra. 

O escritor leva o leitor a um mergulho nas profundezas de um Brasil pouco conhecido por muitos, principalmente os que vivem nas grandes metrópoles. Um país que, mesmo depois de mais de um século da assinatura da Lei Áurea, não conseguiu se livrar totalmente do passado escravocrata. 

Outras obras do autor são “Salvar o Fogo” e “Doramar ou a Odisseia”.

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