A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) deu um passo histórico ao aprovar, por unanimidade do conselho, a criação de cotas para pessoas trans no vestibular. A medida, anunciada na segunda-feira (1º), será aplicada ao sistema Enem-Unicamp já na próxima edição do processo seletivo e permitirá que candidatos transgêneros, travestis e não-binários concorram a vagas específicas, ampliando a inclusão dessa população no ensino superior.
A decisão foi tomada pelo Conselho Universitário (Consu) da instituição após articulação de movimentos sociais e representantes estudantis. Com isso, a Unicamp se torna uma das maiores universidades do país a adotar essa política afirmativa, alinhando-se a outras instituições que já possuem sistemas semelhantes.
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A criação das cotas atende a uma demanda histórica por maior inclusão no ensino superior. Pesquisas indicam que a população trans enfrenta barreiras significativas para acessar e permanecer na universidade, devido a fatores como discriminação, violência e exclusão social.
Os próprios dados da Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest) da Unicamp mostram que, no Vestibular 2025, 279 candidatos utilizaram nome social na inscrição, mas apenas 40 foram convocados para ingresso na universidade. Os cursos mais procurados por essa população foram Artes Visuais, Ciências Biológicas e Medicina.
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“Trata-se de mais um momento histórico para nossa universidade”, explica José Alves Neto, coordenador da Comvest e integrante do grupo de trabalho que formulou a proposta.
De acordo com um estudo de 2021, cerca de 1,9% da população adulta brasileira se identifica como tendo diversidade de gênero. No entanto, a presença de pessoas trans nas universidades ainda é pequena. Além disso, pesquisas mostram que 95% das pessoas trans já sofreram algum tipo de discriminação ou agressão motivada por sua identidade de gênero.
Como vai funcionar a cota trans da Unicamp?
O novo sistema de cotas será aplicado ao Enem-Unicamp, processo seletivo que utiliza as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para ingresso na universidade. Para concorrer às vagas reservadas, os candidatos deverão:
Se autodeclarar trans, travesti ou não-binário no momento da inscrição.
Elaborar um relato de vida, que será avaliado por uma comissão.
Cumprir os requisitos do Edital Enem-Unicamp, que detalhará os critérios específicos.
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O número de vagas irá variar conforme o curso.
Cursos com até 30 vagas regulares deverão oferecer pelo menos uma vaga, que pode ser adicional ou retirada da ampla concorrência;
Cursos com mais de 30 vagas devem disponibilizar duas vagas, também podendo ser adicionais ou retiradas da ampla concorrência;
Metade das vagas reservadas será destinada a candidatos que se enquadrem também nos critérios de cotas raciais para pretos, pardos e indígenas (PPI).
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Além da autodeclaração no momento da inscrição, o processo de seleção exigirá um relato de vida, procedimento já adotado por outras universidades que implementam políticas semelhantes. Esse relato será avaliado por uma comissão de verificação, garantindo a legitimidade das candidaturas.
Após cinco anos da abertura das primeiras vagas, a Unicamp realizará uma análise para avaliar o impacto da política e possíveis ajustes.
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